A Disciplina “Arquitetura da Informação”

A preocupação em organizar e estruturar o conhecimento acompanha a história da humanidade por séculos. O fenômeno da explosão da informação ficou ainda mais significativo a partir da world wide web, provocando importante preocupação com a sistematização e acesso ao conhecimento. O conceito de Arquitetura da Informação (AI) deve ser inserido neste contexto, apesar da sua origem ser datada anteriormente.

O termo “arquitetura da informação”, como registrado na literatura, foi usado pela primeira vez pelo arquiteto Richard Saul Wurman, em 1976, que o descreveu como “a ciência e a arte de criar instruções para espaços organizados”. Wurman percebeu o problema da busca, da organização e da apresentação da informação como análogo aos problemas da arquitetura dos edifícios, que irá prover as necessidades para seus moradores, porque o arquiteto procura identificar essas necessidades, organizá-las em um padrão coerente que determina sua natureza e suas interações, para projetar habitações que os satisfaçam.

As publicações Ansiedade da Informação (Wurman, 1989) e Ansiedade da Informação 2 (Wurman, 2001), mostram uma visão geral dos princípios fundamentais que motivaram o autor em seu trabalho, destacando como dramática a explosão de informação.

Na opinião de Wurman, a montagem, a organização e a apresentação da informação serviram como tarefas características da Arquitetura. A arquitetura da informação seria uma expansão da profissão de arquitetura, porém aplicada a ‘espaços de informação’. Ainda, interações de estruturas de informação influenciariam o mundo da mesma maneira que as estruturas de habitações incentivariam ou limitariam as interações sociais. Em 1976, Wurman organizou a National Conference of the American Institute of Architects (AIA) e escolheu como o tema da conferência “The Architecture of Information”, então usado pela primeira vez.

A partir dos trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Brasília de AI, liderado pelo Prof. Mamede Lima-Marques, surgiu um conceito ampliado. Como resultado da reflexão, foi possível generalizar a proposta de Wurman e criar uma base de métodos, teorias e aplicações para esta disciplina científica. Vários trabalhos acadêmicos foram publicados por este grupo e estão registrados em dissertações, teses, livros e revistas nacionais e internacionais.

Tecnicamente mostra-se que o conceito de AI pode ser aplicado a qualquer espaço de informação. Espaços de informação podem ser caracterizados genericamente como qualquer conjunto de propriedades das coisas. Pode-se pensar em uma estrutura de um DNA como um espaço de informação; o sistema solar; ou a minha mesa de escritório com seus objetos; ou mesmo qualquer objeto podem ser vistos, sob a perspectiva da ‘informação’, como espaços de informação particulares, ou seja, desde que sejam consideradas as propriedades destes conjuntos e dos seus elementos constituintes. Sendo assim, é plausível considerar todos esses significados sob o ponto de vista de uma AI.

Como consequência, chega-se à definição: AI é a configuração da informação de qualquer espaço de informação.

A AI pode ser aplicada a expressivo número de situações. Por exemplo, pode-se mostrar que não existe sistema de informação sem arquitetura da informação. De fato, ao realizar um sistema de informação (e estes são necessariamente padrões de organização de espaços distinguidos de informação), não é possível fazê-lo sem levar em conta estas características da AI. Com argumentos técnicos é possível concluir que a AI é inerente a qualquer sistema de informação. Ainda, mostra-se que este conceito de AI pode ser aplicado em qualquer espaço de informação. A AI é inerente a qualquer espaço de informação, em qualquer domínio. Como consequência das definições, pode-se dizer que não há espaço de informação sem AI.

A AI é uma disciplina científica, isto é, um ramo do conhecimento que possui como base um conjunto de pilares que a define e a sustenta. Para a formação e continuidade desta disciplina, a produção de instâncias teóricas e metodológicas, a constituição de uma linguagem comum entre os seus praticantes, a definição e a constante redefinição de seus objetos de estudo, a singularidade que a diferencia de outros saberes, a complexidade interna que termina por gerar novas modalidades em seu interior, e, por fim, a rede humana que a constitui, são elementos de contribuição e uso deste campo do saber.

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